sábado, 12 de dezembro de 2015

#29 Se a mulher da minha vida não chegar...


Se a mulher da minha vida não chegar, vou publicar todos os meus casos de amor. Em detalhes. E vão ser vários. Vou rir à beça com os amigos, fazer bagunça, depois vou pra academia e cortar o cabelo com o último corte da moda. Vou odiar tanto a cagada que o cabeleireiro fez que nem vai dar tempo de lembrar quem era essa garota que me fez lembrar de coisas que eu deveria esquecer. Vou fazer diferente e vou cortar o meu cabelo no zero, e esperar a zoação da família e da turma. Vou comprar camisetas de várias estampas chamativas e misturar com bermudas de cores diferentes. Vai que eu resolvo me fantasiar de alguma coisa…


Vou alugar um apartamento só meu. E vou pintar uma das paredes de preto. Vou começar a decorar pelos quadros. Vão ser fotos dos meus super heróis favoritos por todos os lados. E fotos das minhas aventuras ao longo da vida. Eu vou ter uma cama de casal pra poder levar quem eu quiser. E o lençol tem que ser branco. Não vou precisar decidir se vou casar ou comprar uma bicicleta. Eu vou comprar uma bicicleta e pronto. Minha casa sempre vai ter gente, mas alguns dias eu vou preferir ficar sozinho lendo um livro, tomando um bom vinho, fazendo maratonas de filmes e séries e comendo pipoca salgada. Em outras noites vou tomar leite com Toddy vestido com minha cueca samba canção. Vou ver “Avatar” pela décima vez e dormir antes de chegar o final, que é a parte mais previsível. Outras noites eu vou ficar no café porque vou ter alguns textos para escrever e alguns poemas para bolar. Vou chegar sempre por volta da meia noite, porque eu vou estar envolvido em vários projetos geográficos e sempre envolvido com diversas pessoas. A noite é feita para aqueles que ainda não encontraram o amor da vida, então eles vão distribuir esse amor com um monte de gente por aí. Vou continuar tendo alguns casos com algumas garotas, mas sempre vai ter uma que tira minha noite de sono, seja rolando na cama ou porque estou desabafando sobre ela com uma amigo (a) ou com o Word. Depois vai passar e eu vou me interessar por outro alguém novamente e novamente. E eu não vou ter problema em conhecer outra garota incrível em uma viagem que eu fizer sozinho, porque meu coração será só meu.


Eu vou viajar quinta à noite sem avisar ninguém (só minha chefe), porque uma amiga conseguiu alugar uma casa aqui pertinho. Eu vou juntar grana, fazer um mochilão pela América Latina, porque a Europa já tá batida, por mais que eu nunca tenha conhecido a Europa. Eu vou querer me mudar para a Etiópia quando eu conhecer a mulher dos meus sonhos, que vai se mudar pra lá junto comigo, pois ela também terá espirito de aventura. Vou fazer todos os planos, até que um dia, sem querer, eu vou ter uma noite maravilhosa com outra garota e aí a Etiópia pode ficar pra depois.


Todos os dias vão ser diferentes porque nunca fui muito de rotina. Sexta eu vou chamar meus amigos(as) pra fazer uma comida diferente em casa enquanto a gente espera o vinho gelar. Domingo eu vou fazer um almoço para aqueles que eu mais gosto, depois vou ao cinema assistir um filme cult que eu não entenda nada. Em outro fim de semana talvez eu saia para esparecer, tomar uns drinques diferentes e voltar pra casa sozinho, mas com o coração cheio, porque sair só pra refrescar a mente é uma das coisas que me deixam mais completo. Por mais que nenhuma mulher acredite, uma das coisas que alguns homens mais gostam de fazer é sair SÓ para uma noite consigo mesmo. Gostamos de nos sentir bonitos também, vivos, felizes e desejados, mas isso não quer dizer que queremos sair de lá com a primeira garota que aparecer. Uma mulher qualquer não substitui a felicidade de dormir sozinho até meio dia porque passou a noite ouvindo suas musicas preferidas junto com seus amigos preferidos. Isso também não quer dizer que a gente não ligue para sexo. Até porque eu ligo bastante. Mas entre sexo meia boca e uma boa noitada suando a camiseta, eu fico com a segunda opção. É muito bom se sentir desejado, mas ao mesmo tempo não sentir desejo por ninguém.




Em outros fins de semana eu vou para beira de um rio, cedinho, vou fazer suco verde e fingir pra mim mesmo que agora eu virei saudável. E já que um grupo de amigos legais é tudo que uma pessoa solteira precisa, é com eles que vou dividir meus dias, por mais que todos comecem a se casar. Vou estudar fora. Em qualquer lugar que pintar uma oportunidade de fazer meus projetos geográficos. Depois vou passar um tempo morando na Califórnia, porque dizem que lá é a minha cara, não à toa. Eu quero me entupir de conhecimento, vinho e de pessoas que aquecem o coração. Enfim, vou descobrir que de nada vale encontrar a mulher da minha vida se eu não viver o melhor da vida comigo mesmo. Então, se ela não chegar, eu vou viver minha vida como eu sempre vivi, sem esperar um feliz para sempre e investindo no feliz agora. Vai ter espaço pra muito amor, por mais que eu me sinta sozinho alguns dias, por mais que me olhem com cara de pena, por mais que achem que eu me envolva com várias pessoas para preencher esse vazio. Mas não tem vazio nenhum, é só muito amor pra dar e pouca vida pra ser desperdiçada.
E se por um acaso isso de amor da vida existir, eu vou saber quando ela chegar porque eu não vou precisar abrir mão de nada disso.



Adaptação
[Texto Original]

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

#28 Mais um cidadão



Um olhar de punição olhando aqui pra baixo.

Um dedo de mãe na cara, pra aquetar o passo.

Uma mente virgem, doida pra fazer besteira.

O bolso cheio de nada e nada na carteira.

A cara cheia de espinha e uma barba rala.

Um irmão que enche o saco, uma irmã que não cala.

No CD de rock um sonho de virar artista.

E mamãe quer conhecer o Amado Batista.

Uma calça lá embaixo mostrando a cueca.

Um all star rasgado igualzinho do Zeca.

Um colega maconheiro que tá sempre louco, filho de um pai errado que viveu tão pouco.

Um caminho que nem sei onde vai me levar.

Uma carência de fé num Deus que ouvi falar.

Uma dúvida não cala aqui dentro de mim:

Se tudo isso é começo, o que será o fim?

O medo de encontrar uma bala perdida.

Viver na própria droga que eu chamo de vida.

A vontade de saber o que é o amor.

Por que ainda não consigo nem saber quem sou?

Um boné sujo e surrado guarda os pensamentos de um jovem brasileiro com ressentimentos.

E, se a sorte deixar viver não for em vão...

Amanhã pode virar mais um cidadão.

Você tá rindo porquê se lembrou dos dias que guardava a sete chaves suas fantasias?

E voltava do amasso com uma dor danada.

E uma revista Playboy como namorada.



domingo, 1 de novembro de 2015

#27 Estou oficialmente desistindo de você

É fato, eu sei, que ninguém nasceu para agradar ninguém, mas eu cansei de tentar despertar alguma coisa dentro de você que chamasse a minha atenção. Cansei de escrever poemas e textos, cansei de enviar músicas, claramente implorando pra você ler as traduções e me encontrar nelas. Cansei de chamar a sua atenção para um mundo novo, onde todas as possibilidades de felicidade estão abertas.



Cansei de te mostrar que sou muito mais do que você pensa. Cansei de te mostrar que vale à pena viver mais na alegria do descompromisso do que se apegar, grudar, sufocar. Cansei de tentar mostrar pra você que sou imperfeito, que não sou o cara dos seus sonhos, que quero muito mais do que apenas andar com os pés no chão, que quero voar, cansei de ver você tentando aparar minhas asas!



Eu estou esgotado de tentar chamar sua atenção para as coisas que gosto, que amo, que curto. Cansei do seu julgamento fraco, vitimista, que se coloca sempre abaixo de uma situação mas que se vangloria por trás de cada palavra perfeitamente colocada numa frase. Cansei de te chamar no bate papo de madrugada, de tentar de provar que ainda gosto de você, que queria uma nova chance com você e que estava tentando de fazer enxergar o meu ponto de vista da história. Simplesmente me esgotei de tentar te mostrar que, embora eu não transcenda isso, gosto de aventuras, de liberdade, de sentimentos à flor da pele, não de rodas de conversa em família, festas e compromissos sociais à cada 15 minutos.



Cansei de tentar mostrar a você o meu verdadeiro valor, a verdadeira coisa em que me transformei e que poucos aceitam. Cansei de você, da sua hipocrisia mascarada de menina boazinha, de coitadinha, que sofreu muito por amor. Ledo engano meu achar que você sabe alguma coisa sobre amor. Você se esquece de enxergar a natureza, o som do silêncio, a magnitude do sentimento que liberdade nos dá... Se esquece de viver quando se foca apenas um objetivo que não é tão somente ser feliz nessa nefasta e curta vida...

Hoje estou, oficialmente, desistindo de você.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

#26 Você esquecerá de se lembrar dela...


Quando chegar o momento certo, você acordará e seu primeiro pensamento não será ela - surpreendentemente, não será ela até o fim do dia, pelo resto dos seus dias. Seus olhos não acordarão inchados e não terá o ímpeto de abrir a gaveta do criado-mudo para olhar a foto dela. Em seguida, pela primeira vez depois de muito tempo, você conseguirá sentir o calor do sol sobre sua pele - prestará atenção em si mesmo.




Ao sair da cama, você fará questão de colocar primeiramente o pé direito no chão e, ensaiando uma coreografia, irá se dirigir ao banheiro cantarolando uma música antiga, não sem antes parar em frente ao espelho, do qual tanto fugira nos últimos tempos. Seguro de si, voltará a se achar bonito, a gostar do reflexo que vê - terá então retomado a jornada ao encontro de si mesmo, de quem havia se perdido.




Em seguida, você vai se sentar à mesa do café e olhará sorrindo nos olhos de sua mãe e de seu pai, que, espantados, constatarão que o filho, daquela vez, tinha realmente acordado e saído inteiro da cama. Conversarão sobre banalidades e até falarão da vida alheia, maldosamente, rindo juntos, com cumplicidade sincera. Apesar do nó na garganta, seus pais serão fortes o bastante para não deixar transbordar em lágrimas toda a felicidade que mal conseguem conter dentro de si.


Chegando ao trabalho, você sustentará o olhar, cumprimentará os colegas com voz viva e eles poderão enfim sentir sua presença. O tempo não se arrastará, suas tarefas não o chatearão e conseguirá prender a atenção ao que é útil. Você voltará a ser gentil, a perceber-se como parte de um todo, até mesmo rirá quando derramar café na calça de trabalho nova. À hora do almoço, sentirá fome de fato, quererá comida de verdade e sentirá os sabores dos alimentos, como há muito já esquecera.



À tarde, voltando para casa, olhará à sua volta, no trânsito, e poderá perceber os olhares de outras mulheres, sentindo o calor subindo-lhe as faces ruborizadas. Não se lembrará dos fones de ouvido e redescobrirá os sons da vida ao redor, sentindo-se parte daquilo tudo. Lá fora e cá dentro de si, o mundo urgirá - as cores das roupas, do céu e dos outdoors como que se lhe ofuscavam a vista até então - seus sentidos, dormentes há tempos, aguçarão novas compreensões de mundo. Você voltará a aprender.




No fim de tarde, porque terá voltado a fazer parte do mundo, será chamado pelos amigos para uma cervejinha e, sem hesitar, dirá sim - um sim a que vinha prontamente se negando. Você se divertirá, beberá, inteirando-se da vida sem ela, sem a sombra dela, sem ao menos mencioná-la. Espontaneamente, conseguirá saber da vida que corre fora de si, sendo capaz de ouvir e de ver outra claramente, flertando sorrateiramente e se esquecendo de se esquecer dos amigos, daqueles que o amam de forma transparente.




Ao anoitecer, enquanto toma um banho demorado, você se tocará e se redescobrirá sentindo prazer sem ter que pensar nela, sem dela precisar - dela nada se fará presente naquele íntimo e libertador instante de gozo -, assistirá um filme no TNT, navegará pela internet, rirá com os memes ridículos, chorará com os vídeos apelativos, ficará revoltado, claro, com os posts políticos. Aceitará vários convites e trocará mensagens com novas e antigas mulheres, pois então já será alguém que voltou ao mundo, um homem digno de ser cortejado e desejado. Mesmo sem se dar conta, você estará pronto para amar de novo.



À noite, ao se deitar, você se sentirá confortável como nunca e o sono não mais lhe escapará. Rapidamente irá adormecer, um sono renovador, que lhe trará um amanhecer cheio de sonhos e de esperanças, porque de fato você nunca foi merecedor das punições com que afligia a si próprio. Ali deitado, você estará inteiro, pleno, bastando-se por si só, como tinha de ser. E então você já terá se libertado dela e passará a se entregar às surpresas que a vida lhe tem reservado. Assim, quantas vezes forem necessárias, voltará a se apaixonar, a encontrar a mulher de sua vida, para viverem felizes no tempo certo que o amor sempre tem, afinal, somos inesgotáveis em nossa capacidade de nos reconstruirmos, enquanto vida houver.

Acredite: você se esquecerá de se lembrar dela.

domingo, 25 de outubro de 2015

#25 Relacionamentos: liberdade, paixão e sofrimento.

Nomes de pessoas citadas foram alterados.

Aureliano e Priscila, se não me falhe a memória, são namorados a pouco mais de dois anos e moram juntos, dividem sua alegrias, tristezas, conquistas e derrotas juntos. Mas há algo que esse casal não compartilha: a maturidade. Conheci Aureliano há pouco mais de um ano, um cara de ideais fortes e sólidos, um homem com plena consciência do que faz. Até o dia em que briga com Priscila. Pouco conheço Priscila, mas a imagem que ela passa é de uma pessoa com ideal firme e único, que não aceita ser contraposta, seja onde e como for. Recentemente, os dois brigaram por um motivo inusitado que chamou minha atenção: liberdade. 



É fato que, para que um relacionamento seja sólido, saudável, que tenha paixão e desejo, ele precisa de um tempo. Da gente mesmo, conosco mesmo. Não que se tenha que terminar o namoro, dar um tempo, nada disso. A liberdade num relacionamento só mostra o quanto podemos ser dependentes de uma pessoa. Pode-se estar numa festa com os amigos, dançando e se divertindo, mas nossa mente gostaria de estar em outro lugar, com alguém. Quando se priva o parceiro da liberdade no relacionamento, ele se torna um campo minado, onde, de um lado, brigas são questão de honra, e do outro questão de medo. Não que eu esteja defendendo um ponto de vista em detrimento de outro, nada disso. É que quando algo que é vindouro "acaba" o sofrimento vem. E vem impiedoso, implacável, sem eu, nem breu, sem dó. É como um câncer que ataca as células saudáveis do organismo, enfraquecendo e matando uma por uma. Aí entra em cena aquela questão: ele(a) não me deu valor, traiu a minha confiança! 



Então também entra em cena a questão: você pode ter a sua liberdade, seus amigos, sua crença seu jeito, seu estilo, seu amor, sua paixão... o outro não. Não se pode ter, por duas ou três horas a presença acolhedora de alguns amigos, de uma música boa pra dançar, ter o pensamento em outro lugar... que já está se traindo uma confiança alicerçada, que antes era inabalável! Sério mesmo? Ter liberdade, muitos querem. Dar a liberdade é diferente. Por que?
Dito isso, posso afirmar assim que, sofrer por amor é opcional! Não se pode perder tempo com as besteiras que o coração manda as pessoas fazerem, quando a mente implora para que seja dado valor à razão! 



Sim, eu sei, não é fácil ouvir a voz da razão quando nossas indiferenças são caladas, censuradas, injustiçadas! É fácil observar a questão pelo ponto de vista pessoal, mas e o outro ponto? Foi ouvido, teve como se defender? Não, vamos parar com isso. A vida segue em frente, chega de sofrer por coisas que só nos levam pra trás, chega de sofrer por imaturidade, falta de vontade. É necessário usar esses tombos para crescer, moldar-se e - a partir daí - tornar-se um ser humano mais forte, que tenha o poder de gerenciar as emoções, que seja maduro, que tenha senso de justiça, de igualdade! Se é para amar, ame direito, só for pra viver, da mesma forma, viva direito! Não é justo lançar a semente e ir embora sem regar! O que é para ser será, não vai ser interrompido, quebrado por nada ou por qualquer bobagem! Se não for pra ser, siga em frente, o mundo tem distrações de sobra, pessoas boas, modos diferentes de se enxergar a situação. Não se pode deixar que algo como o amor, que é recíproco e único, se torne sinônimo de dor e sofrimento. Amar é inevitável. Paixão é incontrolável. Sofrer por eles é opcional.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

#24 Mais um sagitariano...

Inspirado no conceito do Homem Sagitariano da revista masculina Andros.

Sou acostumado a dizer o que penso sem ter um mínimo tato com as palavras, porém, meus amigos sabem que nem sempre faço por mal, mas por ter a mais pura ingenuidade no meu DNA. 
Sou do tipo de pessoa que chega no meu melhor amigo e digo: "Como você pode parecer tão jovem quando é tão velho?" E muitas vezes, posso fazer isso na frente de um monte de gente. Mas quando meu melhor amigo se prepara para apertar meu pescoço, simplesmente completo com algo do tipo: "Mas não se preocupe, pois as pessoas que chegam a sua idade com esta sua aparência jovem demoram para morrer!" Vou dizer tudo isso com a maior sinceridade e com um sorriso enorme nos lábios. 


Mesmo eu não conseguindo entender como posso ser tão indiscreto, pode apostar que no fundo eu ainda penso que estou fazendo um elogio ao citar a idade do meu melhor amigo! 
Eu sou da aqui agora, portanto não adianta ficar nervoso ou irritado com minhas gafes, porque eu não tenho o costume refletir antes de dar uma opinião. Não possuo malícia e minhas observações partem do fundo de minha alma pura. 
Normalmente costumo ser agitado, do tipo que adora lugares lotados, bagunça e muita festa, quando eu quero que isso aconteça. Mas na maior parte do tempo, prefiro o silêncio de uma grande aventura, ou o diálogo de um bom filme. 
Nunca me prendo diante de uma boa discussão com os amigos ou com estranhos. Também pudera, porque sou idealista amável, quase sempre de bom humor e muito inteligente, ou não! Por outro lado, prezo muito a liberdade e simplesmente detesto pessoas controladoras. 

Frank Sinatra era sagitariano


Aliás, não suporto que critiquem minha maneira de agir e posso partir de uma hora para outra, sem mais, nem menos se sentir que algo está faltando em minha vida - a minha preciosa liberdade, por exemplo. Eu, naturalmente é claro, não analiso meus relacionamentos através das pessoas, mas sim, através do que eu sinto vivendo a situação. Sou do tipo que adora relacionamentos casuais, ou seja: romances rápidos. Por isso eu não sou de me prender à uma pessoa por muito tempo e, posso sumir do nada, sem dizer adeus. Só que não sou do tipo que dá falsas esperanças. Se eu quiser apenas um pouco de diversão, você será a primeira a saber: "Olha, eu te achei legal, mas nem passa pela minha cabeça um namoro sério". Bem, pode ser um tanto duro e direto, mas quando eu for embora você não poderá dizer que eu te iludi. 
Sou um legítimo sagitariano, e jamais irei mentir com relação ao que sinto por uma mulher. Tanto que sou capaz de dizer que estou com você apenas por causa do sexo, sem um mínimo de constrangimento. E isto não é maldade, é sinceridade! 



Quando resolvo utilizar uma das minhas melhores armas, o sarcasmo, sou capaz de tirar qualquer um do sério. Aliás, sarcasmo é a maneira usual que qualquer sagitariano como eu usa para atacar as pessoas, fazendo com que percam as estribeiras e partam para a agressão. Mas não se iluda com o meu ar calmo e tranqüilo, porque apesar das aparências, eu posso estar pegando fogo por dentro, pronto para o que der e vier. 
Porém, nunca espere que eu peça perdão por tê-la irritado com palavras tão ruins, porque o eu não sou de  pedir desculpas por nada que eu quis fazer. 
Ou sou um péssimo mentiroso, do tipo que odeia mentir e acaba se entregando logo no começo, ou sou só um ótimo mentiroso! Neste caso, terei o poder de mentir e ainda fazer com que você fique envergonhada de ter duvidado de minha palavra. 

Esoterica Media Cache


Como qualquer sagitariano nato, eu costumo ser muito otimista e ter uma fé inabalável em tudo aquilo que acredito. E quando eu resolvo criar ou apostar em algo, meu espírito infantil e minha capacidade de lidar com as situações servirão como munição para o sucesso. 
Aliás, existem alguns de nós, sagitarianos pessimistas, mas são poucos, fazem parte do lote com defeito (eu estou incluso aí, a maioria de nós ama uma festa, eu odeio... Meio contraditório com o que foi dito mais acima, não é mesmo?). E estes sagitarianos pessimistas, diferente dos sagitarianos de verdade, costumam fracassar em tudo que fazem. Aliás, eles não se parecem em nada com o típico sagitariano. Estão mais pra escorpião, que adoram controlar, ou pra capricórnio, que são egoístas. 
Mesmo que eu viva em uma casa modesta, esta casa será alegre e se depender apenas de mim, estará sempre sempre cheia de amigos que me querem bem. Para mim, o que importa é a felicidade, independente de onde esteja. 

Criador de "As Crônicas de Nárnia", C.S. Lewis era
outro sagitariano.


Mas não se iluda, porque eu não tenho o costume de se acomodar na vida, embora eu não transcenda isso. Se hoje vivo em uma casa simples, pode ter certeza que meu grande sonho é morar em uma mansão. E eu já estou trabalhando para ter sucesso.

Eu costumo ser bem displicente com relação ao romance e o amor.
Se um típico sagitariano como eu e ele lhe dizer "eu te amo", pode apostar que você acaba de ouvir algo muito raro. Não que nós não possamos amar, o que acontece é que nós costumamos demonstrar o amor através de outras formas, como presentes e passeios, mais passeios do que presentes. E mesmo quando nós estivermos "super românticos", ainda assim não vamos falar muito sobre amor.




Bem, deve ser por isso que muitas mulheres reclamam de seus parceiros de sagitário, dizendo que nunca ouviram nada de romântico dito por eles. Mas espere aí, eu já não disse que você é uma mulher fora de série e que espero viver ao seu lado por muito tempo? Será que isso não vale como uma demonstração de amor? Bem, para mim, vale. HAHAHA
É mais fácil você ouvir eu dizer que te amo depois que você terminou o relacionamento do que durante o tempo em que estivemos juntos. Então você vai se perguntar intrigada "por que você não disse antes que me amava?" E a minha resposta será bem típica de um sagitariano: "se eu soubesse que isto significava tanto para você, já teria gravado uma fita para me ouvir quando estivesse carente!" Ao ouvir este tipo de resposta não tente quebrar um vaso na minha cabeça. Para mim, só o fato de estar com você já deveria ser prova suficiente de que te amo!



Habitue-se a enfrentar minha franqueza aguda e meu modo prático de encarar as emoções, e a vida será bem melhor entre nós.
Sou de sagitário, gosto que confiem em mim e detesto ser cobrado por algo que não estou acostumado, como dizer palavras românticas, ou participar de laços familiares. 
O tal do meu amor não está nas palavras, mas em cada sorriso que   dou ao seu lado. E as palavras doces não são meu forte.
Apesar de ser um sonhador e de parecer uma eterna criança, eu sou um homem que pode ser muito lógico e prático.



Vou te magoar muitas vezes com minha sinceridade, mas por outro lado vou fazê-la sentir-se viva e radiante ao meu lado. Quando eu te beijar ou abraçar, será com todo carinho e você se sentirá a mulher mais feliz do mundo por viver com um homem que às vezes parece tão frio, mas que é capaz de demonstrar todo o seu amor com um simples olhar! E tudo isso sem precisar dizer aquela melação: "eu te amo".




segunda-feira, 12 de outubro de 2015

#23 Sonho de criança: se eu tivesse um super poder...




Conheci um moleque que era super fã de quadrinhos na época do ensino médio. Era aquele tipo de cidadão que tinha todas as edições raras importadas sabe-se lá Deus de onde para formar uma coleção de inestimável valor, tanto sentimental quando financeiro. Naquela época ainda não eram tão veiculadas através da sétima arte as histórias que líamos em papel jornal, como a do Homem-AranhaBatman, Superman, Capitão AméricaOs VingadoresX-Men e por aí adiante. Porém, por outro lado também não eram poucas as crianças que brincavam pelo parquinho fingindo lançar infinitas teias por entre o trepa-trepa e o balanço, e martelos de Thor serem feitos de papel machê, pintados para replicar o do gibi. As histórias nos envolviam de tal forma que não havia como não querer fazer parte dos X-Men, lançando raios imaginários pelos olhos e controlando hipoteticamente o pensamento dos amiguinhos da escola. Os tempos mudaram, agora nossas histórias favoritas são também interpretadas em forma de filmes, mas o nosso amor por elas nunca se modificou.




Fico muito alegre quando vou ao cinema e vejo criancinhas vestidas de Batman ou de Mulher-Maravilha, de Hulk ou de Homem de Ferro. Sento na poltrona e enquanto o filme não começa gosto de ouvir as conversas animadas sobre as expectativas em relação ao que está por vir. Dou muita risada quando me ponho a papear com elas e me atrevo a perguntar: "Se você pudesse ter um super poder, qual seria?", pois cada uma das respostas é singular e me revela muito sobre a personalidade da criança. Voar. Controlar mentes. Pular bem alto. Ser elástico. Ser super forte. Ser verde. Lançar raios dos olhos. Congelar pessoas. Obrigar as pessoas a fazer o que eu quero. Correr muito rápido. Ter uma boa mira com o arco e flecha ou arma. Ser um gênio, bilionário, playboy e filantropo (uma vez um menino de 13 anos me respondeu isso, ao que eu repliquei com um sorriso amarelo e pouco encorajador). Conversar com as crianças me faz perceber o quanto projetamos a nós mesmos nesses personagens fictícios, almejando características que a nós seriam pouco possíveis ou até mesmo improváveis. Permitir a nós mesmos uma fuga temporária da própria realidade é algo recorrente desde a infância quando começamos a imaginar contextos, ler histórias em livros, ver filmes ou desenhos animados e por aí vai. A regra é a suspensão da descrença e o mergulho em mundos nos quais animais podem falar, seres humanos (ou nem tão humanos assim) tem super poderes incríveis, máquinas dominam o mundo ou zumbis tomam conta da civilização. O infinito é o limite para a nossa criatividade de entreter e encantar todas as idades e gostos.





Agora pergunte a um adulto qual super poder ele gostaria de ter... Mesmo depois de crescer e deixar de lado as vestes infantis continuamos gostando tanto da fantasia que não nos contentamos em deixar para trás nossa imaginação inventiva de histórias fantásticas. Dessa vontade nascem enredos especificamente voltados ao público adulto, como por exemplo, a incrível obra de O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien, ou a tão comentada história de Game of Thrones de George R.R. Martin, que diferem dos super heróis por se tratarem de enredos diferentes e abordarem outras temáticas. Desde o nascimento até o nosso último suspiro somos instigados pelo sobrenatural, o mito, o impossível, o fantasioso. Tudo isso funcionando em perfeita harmonia graças à nossa ânsia pelo surpreendente. Não digo que todos sejam fascinados por histórias assim, mas em algum nível (com variáveis a se considerar) somos influenciados, cativados e inspirados pelo que lemos, ouvimos e assistimos.




Então quando perguntarem qual super herói é o mais incrível de todos deixe sua imaginação voar pelas páginas daqueles seus gibis antigos e já amarelados, lembrar de cada um dos filmes que já assistiu e de todas as lutas épicas entre mocinhos e vilões para responder. Lembre-se também das histórias infantis que entretinham tanto e ensinaram você a ler, desvende seu gosto pela arte e observe o fato de ela se expressar de diferentes e variadas formas. Encontre a que mais agrada e mergulhe de cabeça! Pode ser que você acabe não montando uma coleção de gibis inestimável como a do menino do meu ensino médio, mas aposto uma moeda (não arriscarei o valor dela) no fato de existir algo que exerça um fascínio enorme em você. E aí, já descobriu qual é? O meu herói favorito, apenas por complexo, é alguém que manja muito de referências!






Adaptação.

domingo, 11 de outubro de 2015

#22 A hipocrisia por trás do racismo

Texto sugerido por Cíntia Becker.


"[...] O desdobramento do caso da torcedora do Grêmio, Patrícia Moreira, flagrada gritando ofensas contra o goleiro do Santos, Aranha, torna-se bastante sintomático da maneira como lidamos com a questão do racismo. Aranha registrou queixa na delegacia de polícia e o time gaúcho foi excluído da Copa do Brasil. Em entrevista coletiva, Patrícia pediu desculpas à Aranha e afirmou que não é racista: “Aquela palavra macaco não foi racismo da minha parte. Foi no calor do jogo, o Grêmio estava perdendo”. Outro torcedor, Rodrigo Rychter, que negou ter injuriado Aranha, contra-atacou dizendo que os torcedores somente reagiram às provocações do goleiro."

O fragmento acima é de uma matéria do Jornal El País do dia 16 de setembro de 2014. Nela, o colunista Luis Ruffato nos empresta o seu conhecimento acerca do que acontece no Brasil nos últimos anos: os casos de racismo. O caso da manchete, aliás, é um dos mais famosos casos de racismo da atualidade. Tomada pela "emoção" do jogo, uma torcedora do Grêmio foi flagrada pelas câmeras da rede esportiva ESPN proferindo a palavra "macaco" ao então goleiro do Santos, Aranha. Ele registrou boletim de ocorrência, deu entrevista, disse que não perdoaria a moça pelo ato e que o caso seria resolvido na justiça. Simples assim, a história, como muitas outras esfriou e caiu no esquecimento. Hoje, pouco mais de um ano depois do ocorrido, não temos nenhuma notícia da moça e Aranha caiu no esquecimento esportivo, mesmo sendo transferido para o Palmeiras algum tempo depois. Introdução a parte, temos que realmente reconhecer que o racismo está presente de forma enraizada na sociedade brasileira. Há leis que punem quem pratica o racismo, mas são leis muito fracas, que em pouco ajudam no combate a esse mal. 





Eu, negro, brasileiro, 23 anos, já sofri em toda minha vida três ataques por causa da cor da minha pele. As três no ambiente escolar e uma delas cometida por um professor. Fui educado de maneira sadia, não menos rigorosa por meu pai, que era branco, que o racismo é uma lacuna que jamais será superada na sociedade brasileira. 




Meu pai me ensinou que cabia a mim seguir rumo aos meus objetivos, lutar para superar qualquer barreira que o racismo viesse a impor. Mas, e a hipocrisia que está escondida atrás do racismo? Ela está sendo combatida? Por que brancos de baixa renda não tem mais acesso às universidades particulares através de cotas, como as raciais? Por que chamar um negro de seu negro é racismo, é preconceito, e chamar uma pessoa de pele clara de seu branquelo é brincadeira? Por que chamar uma pessoa de pele escura de preto  é racismo e chamar uma pessoa com albinismo de branquelo azedo é uma piada? É necessário ensinar nas aulas de sociologia e filosofia nas escolas, que as pessoas de pele clara que são vítimas dessa "brincadeira" também são humanas e têm sentimentos. Endeusar uma parte da população (os negros) em detrimento de outra (os brancos) é hipocrisia, o racismo não vai ser combatido assim. Precismos ensinar as crianças desde cedo que todos somos seres humanos. Negros, brancos, asiáticos... todos vivem, amam, sofrem, choram, vão ao banheiro, tem dificuldades, sofrem com o stress... são gente como a gente. Para superar o racismo e os racistas precisamos combater à hipocrisia primeiro. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

#21 Talvez, um dia eu me arrependa...

A quem interessar possa...

Do que eu posso me arrepender?
Talvez um dia eu me arrependa por ser tão cabeça dura, de usar a solidão como cura. 
Talvez um dia eu me arrependa por ter inventado desculpas para não ir naquele encontro com os amigos. 
Talvez, quem sabe, eu me arrependa por decidir que estar comigo mesmo e não com alguém era a melhor coisa a se fazer. 
Talvez um dia eu me arrependa de não ter ouvido mais minha mãe, que eu deveria sair mais, arrumar uma namorada, alguém pra fazer feliz. 
Talvez eu me arrependa de ter dedicado minha vida demais aos estudos, de que se possível fosse, eu morreria estudando. 
Talvez um dia eu me arrependa de não ter dito as palavras certas para as pessoas que perdi antes delas partirem dessa vida. 
Talvez eu venha me arrepender de não ter trabalhado menos, me esforçado menos em certos aspectos e ter aproveitado mais à vida. Esse arrependimento, muitos dizem, é certo. 
Quem sabe eu vá me arrepender por não ter me aproximado mais de Deus, e aprendido mais sobre a magnitude da sua benevolência. Talvez um dia eu me arrependa por não ter me esforçado mais para fazer com que meus relacionamentos interpessoais funcionassem melhor. 



Do que eu me arrependo hoje? 
De não ter feito ontem o que fiz hoje. 
Arrependo - me de não ter valorizado - me mais, cuidado mais dos meus anseios do que minhas próprias emoções. 
Arrependo - me de ter valorizado cacos de vidros espalhados no chão, ao invés de ter valorizado os diamantes que tinha guardado no fundo de um baú em meu coração. 
Eu me arrependo de ter dito "eu amo você" em situações que mereciam "eu gosto de você" e ter dito "eu gosto de você" em situações que mereciam o mais profundo "eu te amo". 
Arrependo - me amargamente das maneiras que tinha, da falta de discrepância, senso crítico e coerência frente à faceta da realidade cruel da vida. 



Do que eu não me arrependo?
Não me arrependo de ter me tornado o que sou.
Não me arrependo das muitas escolhas que fiz.
Não me arrependo de ter os amigos que tenho hoje.
Não me arrependo de muita coisa.
Tenho a plenitude do discernimento de que os erros do passado me tornaram o que sou hoje.
Amadureci, cresci.
Chorei e vivi!
Preciso ter consciência de que talvez um dia eu venha a me arrepender de algumas coisas, mas nunca, jamais me arrependerei de ter sido eu mesmo, com a certeza de que não serei o mesmo para sempre.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

#20 E agora, Veja?





Lula, Dilma, Aécio, Fernando Henrique, Serra, Marina, Renan, Collor, Sarney. Há anos e anos, o cenário político brasileiro mostra os mesmos nomes. A decrepitude das lideranças neste país. A falta de credibilidade que cerca essas pessoas está atrelada ao fracasso das instituições básicas. E que deveriam ser responsáveis pela Saúde, Segurança, Educação, Saneamento Básico, Água, Luz.
Mas a corrupção é mesmo endêmica e o país está em estado de metástase, como bem disse um membro do Ministério Público. Essa gente que governa o Brasil, os estados, os municípios permitiu essa pouca vergonha. Independente de partidos, os políticos daqui viraram sinônimo do que pior existe na raça humana.
Há pouco resultado prático. Mas parece aliviar a alma chamá-los de corruptos.
Mas são eles que governam a nossa vida. Determinam o quanto teremos de pagar para comer, beber, tomar banho, usar o banheiro. Ter ou não ter tratamento médico. Se valerá a pena ou não ir para a escola. Se em cada esquina terá um policial ou um bandido. Se teremos direito a água. Se haverá gaze, mercúrio ou mesmo médicos nos hospitais públicos.
Os bilhões roubados na Petrobrás são genocídios. Esse dinheiro deveria chegar à população carente, aos milhões que vivem na faixa da miséria absoluta, sem perspectiva na periferia da sociedade. E só são lembrados nas eleições, em programas criminosos que estimulam o nascimento de crianças sem escola, sem ter o que comer, como viver. O que torna o nosso povo mais miserável, cada vez mais sem perspectiva.
Neste cenário surgiu Romário. Nascido na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Pequeno, minúsculo, subnutrido. Médicos quando o viram duvidaram que sobreviveria. Sua mãe Manuela não teve acesso aos cuidados básicos, a Pré-Natal, a uma alimentação decente. O pai, Edevair, deixava de comer para dar à esposa e ao filho. Viviam em um barraco do tamanho de um quarto.

Romário não passou fome. Mas não teve os nutrientes suficientes na infância. Talvez se tivesse, não seria tão baixo. A barriga inchada, na camisa do América, time de coração de Edevair, revelava esquistossomose. Comum em crianças que não bebem água tratada. Era um brasileiro típico que deveria viver excluído do melhor que a vida tem a oferecer. Mas seu talento natural ao futebol revolucionou sua vida.


Brilhava no Estrelinha, time infantil que seu pai Edevair fundou só para ele. Salvando os tornozelos e joelhos dos buracos dos terrões e as 'tampas' dos dedos das guias no asfalto, Romário levava a bola. Fugia dos pontapés dos adversários mais velhos e maldosos da favela. Muitos já serviam ao tráfico.
Para quem se impôs neste cenário, foi covardia quando chegou aos gramados de verdade. Foi um dos melhores atacantes da história do futebol. Viciado assumido em sexo. Casou, namorou, descasou. Compulsivo, desfrutava os prazeres básicos que a miséria lhe negara quando criança.


Os mais refinados pratos. As mais atraentes mulheres. A maioria muito maiores do que ele. A carreira foi brilhante. Poderia ter sido mais. Só que não aceitava ordens, disciplina. Tinha pressa para viver. Estava nos seus genes. Inteligente, sempre se deu ao direito de fazer aquilo que o atraia. Como cursar uma exótica faculdade de moda. Mais do que um capricho, denunciou a vontade de entender o que era belo. Para quem cresceu só de calção, sem camisa ou sapato jogando futebol no senegalesco verão carioca.
Em todas as entrevistas ainda como jogador, Romário demonstrava seu inconformismo com os aproveitadores. Primeiro os dirigentes de clube que tentavam enganá-lo. Depois os que comandavam o futebol. Tão corruptos quanto os políticos. Suas palavras repercutiam na mídia. Após parar de jogar futebol, os partidos fizeram fila para pedir sua filiação.
O roteiro estava pronto. Deveria ser um Tiririca de chuteiras. Frequentador da mídia, sem noção política, sem raciocínio profundo, mero catalizador de votos. A piada sem graça. Mero fantoche disposto a ser usado no Planalto. Só que se enganaram com Romário.
Seu senso social aflorou. Ele viveu tanto na favela do Jacarezinho quanto na Barra da Tijuca, cinco anos na desenvolvida Eindoven, um ano de convivência com os catalães, cidadãos orgulhosos de sua cidade que querem independente, Barcelona. Viajou o mundo. Usufruiu do bom e melhor. Viu populações miseráveis.
Mais do que tudo, um anjo pousou e revolucionou sua vida. Aos 40 anos, milionário, em 2005, Ivy. O sexto filho chegava com Síndrome de Down. Romário reavaliou todos os seus valores. Começou a perceber que o país além de corrupto é cruel. Se as pessoas comuns sofrem com o descaso, as com necessidades especiais são massacradas. O governo estimula as famílias a as tratarem como um fardo. Não há política de conscientização, estímulo. O recado silencioso é que o melhor é escondê-las da sociedade.


Romário foi digno. Apaixonada pela filha, a fez símbolo da luta pela dignidade às pessoas com necessidades especiais. Engoliu sua aversão a Ricardo Teixeira e Marin. Acreditou na palavra dos dois. E que na Copa haveria lugares para brasileiros cegos, paralíticos, com Síndrome de Down. Lógico que foi enganado. A aversão virou ódio.
No Planalto seguiu crescendo, com projetos populares voltados à população carente e às pessoas deficientes. Além de sua revolta contra a CBF, contra a Fifa, o abuso da Copa do Mundo. Nas urnas, o deputado logo virou senador, derrubando raposas vividas. E se tornou candidato favorito à prefeitura da sua cidade, o Rio de Janeiro, nas eleições do próximo ano.
Se vencer e fizer um bom governo, o céu pode ser o limite para Romário. O bebê subnutrido que cabia em uma caixa de sapatos há 49 anos, hoje já é senador da República.
Na semana passada, a Veja apresentou um recibo de depósito na Suíça. R$ 7,5 milhões no seu nome. São 2,1 milhões de francos suíços. As aplicações teriam sido feitas entre dezembro de 2013 e junho deste ano. No banco BSI, com sede em Lugano. Na Receita Federal, não há registro algum deste dinheiro em nome do senador. Seus bens apresentados chegam a R$ 1,3 milhão.


Um senador no Brasil recebe R$ 33,7 mil mensais.
A denúncia virou manchete não só no Brasil como no Exterior. Romário respondeu com ironia nas redes sociais e ameaça de processo. Mas era muito pouco para quem deseja se transformar em um dos líderes deste país.
E fez o contrário do que o Direito ensina. O inocente teve sim de provar sua inocência. Viajou até a Suíça. Foi até o banco. E comprovou que o extrato apresentado é falso. Não há dinheiro algum na sua conta. A Veja teria publicado sem checar.
A vingança já começou. Romário se disse 'chateado' por não ter esse dinheiro. E como retaliação garantiu que processará os repórteres que escreveram a matéria. Além disso, divulgou o perfil de cada um no facebook. Os jornalistas começaram a ser atacados. E tiveram de acabar com suas contas.
"Alguém aí tem notícias dos repórteres da revista Veja Thiago Prado e Leslie Leitão, que assinaram a matéria afirmando que tenho R$ 7,5 milhões não declarados na Suíça? E do diretor de redação Eurípedes Alcântara? Dos redatores-chefes Lauro Jardim, Fábio Altman, Policarpo Junior e Thaís Oyama?", colocou, rancoroso, o senador na sua página do facebook.
Romário está certo em cobrar. Sua carreira política ascendente poderia sofrer um golpe fatal.
E tinha obrigação de ir à Suíça.
A expectativa que gera em milhões de brasileiros o empurrou.
O sorriso voltou à sua fisionomia.
Como quem acaba de marcar um gol de placa.


Neste pais corrupto, quem não deve tem de provar.
Ainda mais político.
E Romário mostrou que o dinheiro não é seu.
Pior, o extrato publicado, falso.
Agora as explicações cabem à Veja.
A revista de maior circulação semanal deste país.
Como publicou um extrato que não é verdadeiro?
Deu uma informação inverídica que ganhou o mundo?
Que poderia ter desmoralizado a carreira de Romário?
Sem hipocrisia, uma denúncia falsa enfraquece outras.
Verdades podem não ser levadas em consideração.
A revista começou a circular em setembro de 1968.
E adotou para si um slogan potente, significativo.
"Veja, indispensável para o país que queremos ser"
Chegou a hora de quem acusou provar...


Texto de autoria de Cosme Rímoli em seu blog no Portal R7
Alguns pequenos erros de concordância foram corrigidos.
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