sexta-feira, 18 de agosto de 2017

#47 Eu não quero ter filhos. E não sou um monstro por isso!

Podemos até ser livres, ou nos considerarmos assim, mas a verdade é que estamos presos à amarras invisíveis que se apoiam nas desculpas das tradições culturais. Ter filhos é uma delas. Por mais que o nosso tempo seja um período em que preconceito com quem questiona o padrão nesse quesito começa entrar em processo de diminuição, muita gente ainda te olha como um ser de outro planeta quando você diz as seguintes palavras: “Eu não quero ter filhos.”







Minha mãe vive a me cobrar netos. Volta e meia, quando ela e eu estamos tomando uma cerveja e batendo papo sobre relacionamentos, a pergunta corriqueira sai como um script: "E quando vou ter a minha netinha?" Eu desconverso, não quero frustrar esse pequeno sonho dourado dela. A bem da verdade é que hoje com quase 26 anos de idade eu me decidi por hora: não quero ter filhos.

Ao longo de toda a minha maioridade eu aguardei o tal instinto paterno bater na porta do meu coração. Hoje, acredito que ele nunca vai aflorar. Não que eu não goste de crianças, praticamente ajudei na criação do meu irmão de 10 anos, mas nunca senti vontade de ter os meus filhos próprios. E isso não me torna um monstro, como muitos devem pensar.

Um filho é uma carga exigente de responsabilidade, responsabilidade essa que muitos jovens da minha idade não tem condições (sejam elas emocionais, psíquicas ou financeiras) de carregar. Um filho exige tempo. Um filho exige paciência. E nos dias atuais, com o estresse reinando em nossa sociedade, nunca estivemos em tal estado de criticidade com a falta de tempo e paciência.


Minha cara quando me perguntam onde
estão meus filhos.


Que ser humano racional vai escolher colocar uma criança num mundo onde pessoas querem que você engulas suas crenças e ideias goela abaixo?  Que tipo de pessoa põe uma criança num planeta ameaçado com questões climáticas, sociológicas, politicas e raciais em plena ebulição?

Meus filhos, aqueles que eu não quero ter, precisam viver num mundo onde o respeito, a igualdade e a solidariedade imperam. Claramente, isso é sonhar em viver num conto de fadas, mas educar um filho é dose pra leão. E eu tenho muitas séries pra por em dia.

Que fique claro: não quero que as pessoas parem de procriar, isso é o meu ponto de vista. O nosso mundo, a nossa economia, a nossa tecnologia e outros campos precisam e vão precisar de pessoas jovens para que seus respectivos progressos continuem.

A questão que aqui quero expor é que eu e mais algumas pessoas neste mundo não somos obrigados a ter filhos. Como diz a minha mãe, eu não sou todo mundo. Há pessoas que precisam lidar com a própria vida antes de terem que se dedicar a outra. 


Pai de cachorro é a única chance de filho 
que quero no momento.


Fico a me perguntar, se de repente, não querer ter filhos fosse visto como uma escolha tão comum quanto não querer cortar as unhas, quantas pessoas teriam escolhido resolver seus problemas primeiro em vez de envolver mais um serzinho neles? Ou seja, a questão acaba sendo a de não querer ter filhos – é ter o direito de escolher se quer tê-los, sem precisar prestar contas para um monte de gente que não sabe o que você vive, não conhece a sua percepção de realidade.

Querer ter filhos é uma escolha que precisa vir do coração, da mente, do corpo. Não pode ser uma decisão tomada com base no que diz o seu amigo que acabou de ter um casal de gêmeos ou da sua mãe que espera por um neto desesperadamente. Fazer as nossas escolhas ao invés de ir pra onde leva a maré é a melhor garantia de uma vida mais plena e alegre e, o mais importante de tudo, sem arrependimentos.

Não quero ter filhos. E não sou um monstro por isso!