quarta-feira, 4 de novembro de 2015

#28 Mais um cidadão



Um olhar de punição olhando aqui pra baixo.

Um dedo de mãe na cara, pra aquetar o passo.

Uma mente virgem, doida pra fazer besteira.

O bolso cheio de nada e nada na carteira.

A cara cheia de espinha e uma barba rala.

Um irmão que enche o saco, uma irmã que não cala.

No CD de rock um sonho de virar artista.

E mamãe quer conhecer o Amado Batista.

Uma calça lá embaixo mostrando a cueca.

Um all star rasgado igualzinho do Zeca.

Um colega maconheiro que tá sempre louco, filho de um pai errado que viveu tão pouco.

Um caminho que nem sei onde vai me levar.

Uma carência de fé num Deus que ouvi falar.

Uma dúvida não cala aqui dentro de mim:

Se tudo isso é começo, o que será o fim?

O medo de encontrar uma bala perdida.

Viver na própria droga que eu chamo de vida.

A vontade de saber o que é o amor.

Por que ainda não consigo nem saber quem sou?

Um boné sujo e surrado guarda os pensamentos de um jovem brasileiro com ressentimentos.

E, se a sorte deixar viver não for em vão...

Amanhã pode virar mais um cidadão.

Você tá rindo porquê se lembrou dos dias que guardava a sete chaves suas fantasias?

E voltava do amasso com uma dor danada.

E uma revista Playboy como namorada.



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