sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

#33 Quando eu for embora...

Quando eu for embora, não quero lágrimas. Quando eu atravessar a porta da sala com destino à liberdade eu não quero delongas, abraços ou demora. Quando eu partir, quero que saiba que lamento muitíssimo por ser um fardo em sua vida, por te atrapalhar a viver. Quando na rua da frente da minha antiga casa eu pisar, rumo ao meu destino desconhecido, eu espero de coração que você volte à enxergar. Enxergar os medos de uma noite mal dormida, da falta de notícia, da falta de interesse e quero que você entenda: nada disso foi cem por cento minha culpa. 



Quando eu for embora, quero que saiba que a partir daquele instante serei vento. Poeira. Fotografia. Lembrança do passado. Serei um pouco do nada, serei invisível. No momento da minha despedida, direi apenas tchau e não vou querer um abraço teu e, no meu rosto você não verá o mínimo vestígio de um choro, pois por mais que me doa sair por um motivo tolo, não me permitirei chorar. 



Quando eu largar suas mãos para pegar nas mãos do mundo e seguir sem rumo, começarei tudo do nada, aprenderei e voltarei a viver. Aprenderei a reaprender, mesmo a contragosto, a sentir os sabores de uma vida livre: uma cerveja no fim da tarde, depois do expediente, uma visita na casa de um amigo todo o fim de semana e quem sabe, por mais que eu odeie, ir numa festa e voltar apenas quando o sol vermelho nascer no horizonte. Quando eu for embora, quero que saiba que lutarei com todas as forças que tenho (acredite, não são poucas) para pouco me importar com que estou deixando para trás. 



Não ligarei, não mandarei mensagens no WhatsApp, não mais te incomodarei. Por tantas e tantas vezes você me disse que por conta do que sou, iria sumir, deixar tudo para trás mas quero que poupe sua boa vontade. Eu faço as honras, irei de bom grado, sem olhar nos seu olhos, sem te dar adeus. Não chore minha ausência, por favor, pois você não soube valorizar minha presença, guarde essas lágrimas para outra ocasião. Não lamente aos seus amigos a minha partida, não! Comente com eles que você livrou de um fardo, conte a eles o mesmo de sempre que você vê em mim: erros, fracassos, defeitos, diga que a agora você é quem está livre e que não há cordas em você. Diga tudo isso e muito mais. Faça o que disse que iria fazer...
Quando eu for embora.  


"Um pensamento, quando é escrito, é menos opressor, embora às vezes se comporte como um tumor maligno: mesmo se extirpado ou arrancado, volta a desenvolver-se, tornando-se pior do que antes." (Vladimir Nabokov)

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